História da Colônia de Pescadores Z3
Quanto à evolução histórica da Colônia Z3, temos que em 1912, a lei 2.544, que criou as colônias de pescadores colocou-as sob a tutela do Ministério da Agricultura. Seu principal objetivo era cadastrar pescadores artesanais para uma possível convocação para a guerra. Por terem um vasto conhecimento de regiões litorâneas, os pescadores podiam tornar-se peças fundamentais na aplicação de estratégias de defesa nacional, que eventualmente necessitassem ser aplicadas. A Colônia de São Pedro, ou Arroio Sujo, como também é conhecida a Colônia de Pescadores Z3, foi fundada em 29 de junho de 1921. Alguns moradores mais antigos afirmam que a família “Costa” (família tradicional local) foi uma das primeiras a se estabelecer na região personificada pelo casal Olegário e Adelaide Costa. Em entrevistas com a comunidade, nos foi repassado que o estabelecimento de grupos na Colônia Z3 se deu em quatro fases. No inicio eram poucas pessoas e famílias, vivendo em casas de madeira e palha, oriundas de diversas regiões. Na primeira fase, no início do século XX, os moradores eram do Estado do Rio Grande do Sul, agricultores de cidades como Piratini, Tapes, Viamão e Rio Grande. Já numa segunda fase, à partir da década de 1950, vieram grupos oriundos do Estado de Santa Catarina, oriundos de cidades como Laguna, Itajaí, Florianópolis, entre outras. Eram pescadores. A partir da década de 1960 começaram a vir famílias oriundas de uma ilha conhecida como “Ilha da Feitoria”, localizada à uma hora de barco da Colônia Z3. Numa fase final, a partir do início da década de 1990, começaram a surgir grupos oriundos das periferias urbanas e da zona rural de Pelotas. Segundo relatos o principal objetivo de todos que se estabeleceram no local sempre foi a melhoria da qualidade de vida, através da atividade pesqueira na Lagoa dos Patos. Alguns idosos afirmaram que os antigos moradores hoje batizam o nome das principais ruas da Colônia Z3: “Olegário Costa”, “Silvino Costa”, “Ignácio Moreira Maciel”, “Inácio Motta”, “Fausto Carrenho”, entre outros. Num determinado período da história - segundo os entrevistados, na primeira das fases de chegada de grupos no local - o peixe era comercializado após ser seco, vendido em arrobas (pacotes de15Kg cada), e alguns pescados não tinham valor comercial, como o “camarão” e o “siri”, por exemplo. Os barcos não possuíam motores, sendo orientados pelo vento através do uso de velas. Não haviam as redes feitas de nylon - seda como atualmente. Os instrumentos para a prática da pesca eram o espinhel e as redes feitas de linho, e posteriormente de algodão, as quais eram banhadas no “óleo de linhaça” para ter mais resistência. Vários ex-pescadores, atualmente já idosos, nos relataram que acompanharam de perto a evolução dos equipamentos de pesca: como o aparecimento de um instrumento náutico denominado de “GPS”, o qual é utilizado atualmente para auxiliar o pescador na identificação de cardumes. Entretanto, com o decorrer de nossa pesquisa, os pescadores mais jovens nos relataram que utilizam ou utilizaram esses equipamentos apenas poucas vezes, indo por fim recorrer à experiência tradicional de identificação de cardumes, passada através de diversas gerações de pescadores. Este fato nos mostra que, mesmo com a influência tecnológica presente na atividade cotidiana do pescador artesanal, as técnicas tradicionais de navegação e pesca ainda predominam na dinâmica cultural da Colônia Z3. Antes da implantação da primeira linha de ônibus no local, o deslocamento até as outras regiões da cidade de Pelotas e região, era feito à pé, à cavalo, de carroça ou de barco até a “Praia do Laranjal” (localizada à 12Km da Colônia Z3), ou direto Zona Portuária de Pelotas, onde as pessoas deixavam seu barco e seguiam à pé até o Centro da cidade. Nos relatos os idosos contam que uma lembrança muito presente em suas memórias é o fato de que algumas janelas do primeiro ônibus a circular no local eram protegidas apenas por cortinas, e que o veículo costumava ficar preso no barro formado nas estradas em dias chuvosos, obrigando as pessoas a saírem e o empurrarem. No início da década de 60, inicia-se a construção do Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes, Igreja Católica local. Segundo relatos essa igreja foi “construída pelos peixes”, pois conforme as boas safras da época, os pescadores doavam uma porcentagem de seu lucro para a sua construção. Antes da construção da Igreja, as manifestações religiosas como missas e batizados eram realizados embaixo de uma espécie de árvore conhecida como “figueira”, a mesma localizada no centro da Colônia de Pescadores Z3. Como nem todos os anos havia boas safras, a igreja demorou algum tempo para ser finalizada. Também nessa época ocorrem doações de terra pela “Firma” do “Coronel Pedro Osório”, latifundiário da região, muito estimado por antigos pescadores, já que este momento responde por uma espécie de independência e oportunidades de ter o próprio espaço e começar a vida. Este fato é importante, pois foi exatamente um período em que haviam chegado novos grupos e famílias, os quais fomentaram uniões matrimoniais, o que gerou grande expectativa por autonomia dos que acabavam de constituir novas famílias. Na primeira metade da década de setenta, é implantada luz elétrica, processo que fomentou um período de urbanização no local. Foi também nessa época que começou a construção de uma estrada que ligou a Colônia Z3 à cidade de Pelotas através de um caminho mais curto e seguro, permitindo a introdução de elementos que configuraram uma nova concepção de organização sócio – econômica, baseada principalmente numa melhor logística para o comércio pesqueiro.